terça-feira, 8 de outubro de 2013

Ai saudade...



Ai saudade

Saudade do que fui e não mais sou. Saudades da ingenuidade de olhares que desconhecia quando procurava conhecer esse lado obscuro onde sabia haver luz. Vontade de regressar à ingenuidade do desconhecido onde conhecia apenas o essencial. O essencial que me iludia nessa ilusão que não me desiludia a cada segundo do rápido tempo que teima em não passar.

Ai vontade

Vontade de regressar à ingenuidade das palavras não procurando ler as entrelinhas das linhas inutilmente ditas, insatisfatoriamente proclamadas sem o tom que procurava ouvir, sem tom algum.

Ai sorriso

Por saber que agora conheço mais o olhar que me parecia tão vazio, na imensidão de emoções que se escondem por trás dessa cortina. Ai sorriso por saber que conheço melhor do que pensava os mais vulgares desconhecimentos que me assustam por saber que me acalma saber o quando sei.

Ai confusão

Quando sei que o mau sabe bem porque é bom e o que é bom faz tão mal. Dualidades de consciências quando falta a sanidade para pensar e para sufocar essa insanidade, dando fôlego à própria da consciência.

Ai mente

Porque continuas a dizer constantemente que é errado quando certamente essa verdade está tão presa em mim, procurando eu a mentira numa prova irrefutável que conheço e procuro desconhecer.

Ai palavras

Que voltastes tanto tempo depois, agarradas a mim quando vos pensava tão soltas, numa proximidade que eu procurava manter distante, acalmando uma mente confusa e clara. Palavras, porque voltastes….?

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A alma está fria, as mãos estão quentes

Caminho nas sombras da noite procurando a claridade da realidade. Está frio, a alma está fria, as mãos estão quentes.

Caminho na sombra da noite que desprezo. Escuridão é uma capa que oculta. Protege e ataca os desprotegidos. Gosto do dia, da claridade batendo nas coisas mostrando-me a mais pura das realidades.

Caminho na sombra da noite num passo acelerado. Está frio. A alma está fria. Por entre o tempo que passa sem cessar, procuro acelerar o passo para que não pare. O tempo não pode estagnar, não faz sentido. Para o tempo numa realidade distante em que o olhar ultrapassa a realidade e vagueia entre pensamentos e datas e factos. Não, o tempo não pode parar. Se paro, estagno nessa noite e nesse frio de alma em que não faz sentido ficar. Há coisas que não fazem sentido, não são racionais. Passam dias e horas e segundos e continua a não ser real. 

Caminho na sombra da noite pensando que devia caminhar mais devagar. Ninguém me acompanha, não tenho ninguém ao meu lado. Caminharei depressa demais, ou terei ficado restringida a um único caminho, perdendo a noção que há mais estrada para além desta?

Caminho na sombra da noite procurando desesperadamente o dia. A claridade. A motivação. A esperança.

A alma está fria mas as mãos estão quentes. Resta-me aproveitar enquanto estão não estão frias e dar-lhes utilidade. Trabalho. Caminho. Dia. Luz. E enquanto sigo perdida, sem saber que caminhos tomei, evitando olhar para trás, para o escuro da noite, procuro não parar, acelerar o passo e fazer sempre mais. “Não há tempo suficiente”. Não importa. Pelo menos, há dia.

terça-feira, 29 de maio de 2012

O Piano


O piano está coberto de pó, camada invisível de poeiras que vagueiam ser serem vistas e que tapam a beleza mais pacífica da divisão. O preto e branco, ainda assim, são visíveis, tons esbatidos por aquela camada de imperfeição. O tempo é demasiadamente pouco para que os dedos toquem aquelas claves e se percam nas melodias inacabadas. Voltar ali seria voltar ao passado, retomar o que ficou estagnado. Voltar a tocar no piano que ritmadamente coordena a consciência e engana a mente entre um sol e um dó mais ou menos rápido. Os dedos entrecruzam-se num ápice tão grande que engana o olhar, fixo apenas em pretos desenhos em papel de um branco sujo pelo tempo. Voltar a soltar um Fá seria retomar a um passado do que fui, partes perdidas nas correrias do tempo. Seria voltar a tocar melodias de amores, de felicidades, de tristezas e de desilusões. Mas o coração não resiste, a mente prepara-se e os dedos entrecruzam-se num ritmo demasiado apressado para que os olhos acompanhem.
E a poeira que teimava em cobrir o piano rapidamente se desvanece para que possa soltar-se de novo a melodia. E agora, a grande questão será: que melodia tocar?