segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Míseros momentos

São inúmeros os míseros momentos que por nós passam tão rapidamente, sem deixar qualquer marca da sua presença. E são tão poucos, aqueles que ficam na lembrança, que deixam o seu rasto. Acontecem subitamente sem serem planeados. Pois só esses são verdadeiramente especiais. São velozes, pouquíssimo tempo duram. São momentos tão inocentes e tão doces! Na altura, parecem tão singulares e habituais que não lhes são dado o seu real valor. Deixam-nos, depois, a pensar. Deixam-nos seriamente contentes por aquele momento tão vulgar e tão único. Somos mentes e corpos desejosos de obter uma felicidade tão inocente que chega a ser ridícula. Esperamos tempos infinitos por um momento especial, um toque especial, um olhar especial. É tanto o tempo gasto com sonhos e ambições que o tempo passa ao lado, arrastando consigo memórias particulares. São ocasiões especiais bruscamente deitadas fora, por culpa única e singular da preocupação com a mísera vida. De que serve viver, cumprir horários e ordens se não possuímos forças para tais actos? Alegria. Sorriso. Felicidade. Palavras mágicas por que todos lutamos, buscando-as em grandes actos. São, porém, tão fáceis de alcançar em pequenos momentos. É preciso saber aproveitar, saber viver. Não basta planear aquilo que de melhor será para nós, no futuro, mas buscar nos simples gestos do presente a razão de viver. É preciso abrir o coração, enchendo-o de tudo o que de bom um simples olhar pode dar. Porque mais tarde, obstáculos surgirão. Um dia mais tarde, não haverá razão para sorrir. E será aí que buscaremos a alegria das memórias, dos míseros momentos passados, como uma cura contra a tristeza. Porque o amor…cura tudo!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Álbum de memórias

Peguei em pedaços divididos, de mim. Memórias que vagueavam numa agitação constante, regressando do nada, inesperadamente, e escondendo-se quando eram necessárias. Ordenei-as confusamente sendo estas irrequietas demais. Queria sequencia-las num álbum da minha vida, álbum esse com tantas páginas mas ainda tão pequeno. Olho para o passado relembrando o que se passou, e só agora entendo os erros que cometi. São tantas as coisas que gostava de corrigir, tantos os erros que gostava de evitar... Seria, assim, uma vida perfeita, e não terrena. São os erros cometidos que nos ensinam a crescer. São lições aprendidas instantaneamente com equívocos nos quais só reparamos tempo depois. E são tantas as vivências nas quais gostava de participar, de novo. São tantas as memórias irrequietas que relembro, acalmando-se estas para as conseguir agarrar. Vão agora surgindo umas outras, anteriormente recalcadas e disfarçadas, ínfimos pormenores que há muito me havia esquecido. São tristezas e alegrias, arrependimentos e orgulho. É o orgulho em ser quem sou e em quem participa nas fotos desfocadas da minha alma. É o retrato de quem sou, pintado por inúmeros protagonistas da mísera história da minha vivência. É um conto no qual não se sabe o final, o desenrolar ensurdecedor de uma melodia irrepreensível. É uma máscara que protege e camufla tudo lá dentro, o espelho que não consegue transmitir um interior tão simples. É a fórmula fundamental baseada apenas nas lições aprendidas com outros tão especiais, sendo a sua resolução tão simples como o uso das memórias como método. É um simples e imenso álbum. Organizo as minhas memórias num álbum. E esfolho agora as suas páginas recordando o que se passou. Com um sorriso e uma lágrima…

domingo, 12 de outubro de 2008

Amo-te

Teus olhos cintilam numa felicidade infantil e inocente. Brincadeiras nossas, tão subtis, que se encarregam de me conferir uma alegria que não consigo definir. Paro por uns segundos apreciando teu olhar tão brilhante, resplandecente. Em ti existe um sorriso maravilhoso que me faz sentir realizada, que me faz sentir bem. Sem pensar em mais nada, de mim sai aquela palavra tão forte e tão bela: amo-te. E depois, paro, olho-te. Domina agora em mim o receio da tua reacção, da tua resposta. Penso em pedir desculpa, pois foi um acto involuntário. De ti, apenas chega um sorriso acompanhado com uma doce voz que diz: eu também. Só depois me apercebo que para ti, aquele “amo-te” refere-se a um amor de amigos. De amizade, nada mais. Mas sabe tão bem poder estar perto de ti, dizer-te que te amo, mesmo que encares isso como uma brincadeira. É tão bom poder abraçar-te, ver-te feliz. Sinto-me completa. Tu dizes-me que me amas também, apesar de saber que é apenas uma brincadeira. Mas a sério, dizes-me que te faço bem, que comigo és feliz. Eu sorrio para ti. E depois, abro os olhos. Acordo. Tudo não passou de um sonho.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Silêncio

Prezo a calma e serenidade do silêncio quando me vejo perdida no meio da confusão, atropelada por berros e gritos que não consigo calar, quando parece não haver saída eminente. Anseio o recanto do nada, quando em mim são projectados objectivos e projectos forçados, sem possível fuga para estes. Meu Deus, quanto desejo ausentar-me do barulho e confusão que me assombra, quando só quero estar recatada no meu canto, aglutinando as peripécias da minha vida, boas e más, num baralho de cartas que ponho em cima da mesa e jogo com elas….jogar com a minha vida! Quanto eu queria fechar-me à chave, muito bem escondida para ninguém me descobrir e poder descansar e aliviar-me de tudo. E depois, o tão desejado silêncio vem. Delicioso, tão querido! Sabe tão bem, no início. Os primeiros instantes são fantásticos, ouvindo uma melodia surda. Não existe melhor terapia, melhor relaxamento. E depois começa a saturar. As cartas com que inicialmente jogava viram-se contra mim por tentar controla-las. Dizem ser conduzidas por esforços e sorte, e não jogadas como um jogo qualquer, no qual evitamos tristezas. O silêncio transmite, agora, uma melodia ensurdecedora à qual tento fugir. O nada torna-se cansativo, saturante. Desejava ouvir o som do silêncio mas agora só quero dele fugir. Olho para o nada e este torna-se tão vazio, tão escuro, tão frio. Lá fora ouço os risos de felicidade… As mais belas sensações são transmitidas na calma do silêncio: o silêncio de um olhar, de um sorriso, de um beijo. Os mais belos sorrisos são criados pelas mais simples palavras. O poder do silêncio. Tão forte, desejado, querido. Tão saturante, cansativo. As mais belas palavras são ditas no silêncio, mas as mais belas gargalhadas são partilhadas, bem alto, para todos ouvirem. E para todos sorrirem. Silêncio….Levanta-te e, em silêncio, aplaude a vida.