sexta-feira, 25 de julho de 2008

Conversa de café

Estava sentada numa esplanada de um simpático café lendo uma daquelas revistas vulgares que coscuvilham a vida de todos aqueles famosos e nos relatam todos os passinhos que estes dão. Acompanhava a leitura com um café, para mim, indispensável àquela hora do dia. Entras-te e sentaste-te na mesa ao lado. Pediste também um café e abriste o jornal que trazias debaixo do braço, enquanto esperavas. Senti algo que não te sei definir o que foi mas que me deixou intimidada. Por instantes, uma súbita vontade quase fez com que metesse conversa, mas o medo e a vergonha foram mais fortes. Calei-me e li mais umas páginas que relatavam os acontecimentos de telenovelas que nem sequer acompanhava. Mas tu falaste. Fizeste uma pergunta qualquer à qual eu não conseguia responder. Faltavam-me as palavras, tinha receio de errar. Arrisquei. A conversa durou mais uns curtos vinte minutos. O jornal e a revista foram desprezados e a leitura deu lugar a uma rápida conversa de café, acompanhada por duas bicas, como se diz cá no sul. Falamos de tudo o que era possível e imaginário, gozamos e criticamos os erros de um alguém que agora não importa, elogiamos um outro que sabemos daqui por uns dias estar a dizer exactamente o contrário. A pergunta surgiu envergonhada e a conversa decorreu animada. Não sabia quem tu eras, de onde tinhas vindo, o que estavas ali a fazer. Mas desde o momento em que entraste ali, que puxaste uma cadeira, que te sentaste e que abriste delicadamente o jornal, que gostei de ti. Simpatizei logo contigo tal como pareceu que simpatizaste comigo. Mas o tempo depressa passou e o relógio anunciou a hora da tua despedida. Levantaste-te, despediste-te e docemente disseste que no dia seguinte regressarias. E amanhã lá estarei, para mais uns elogios, mais umas criticas, para mais uma conversa.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Amizade de desconhecidos

Fomos tudo, amigos, amantes sem o sermos, por vezes, meros desconhecidos que ansiavam conhecer-se. E não éramos nada. Conhecíamo-nos, desconhecendo aquilo que éramos. Desconhecendo, até, aquilo que sentíamos. Separámo-nos por algum tempo, pensando estar sempre juntos. O tempo passou, como o mar que enchia de ansiedade por te ver, esvaziando e levando consigo a aproximação existente. Estavas ao meu lado, mas sempre tão distante de mim. Já não consigo comunicar contigo da mesma forma que comunicava, naquele tempo em que apenas um olhar bastava. Sinto que te não conheço, que te quero descobrir, de novo. Mas fechas-te na tua concha, não te deixas revelar. Manténs-te imparcial a sentimentos e emoções, não os deixando transparecer. Revelas-te como uma contradição de ti próprio, uma moeda com duas faces. Dizes, desmentindo logo de seguida. Confundes, afastas e aproximas. Tudo parece um jogo no qual me tentas enfraquecer e confundir. De facto, já o conseguiste mas arranjo a força necessária para continuar a lutar por ti. Força essa, muitas vezes, que tu me dás. Sinto que aquilo que tínhamos nunca mais será recuperado, são ondas passadas, que não voltam mais. Mas juntos, se assim o desejares, podemos alcançar algo mais do que esta amizade de desconhecidos. E voltaremos a revelar-nos, voltaremos a conhecer-nos, voltaremos a completar-nos.

domingo, 13 de julho de 2008

Sente o Fado

Liga o rádio. Sincroniza numa música. Escolhe o Fado. Ouve. De início não vais gostar. Sente o Fado. Deixa-te envolver. Não penses em mais nada, não penses que não vais gostar. Sente a música. Já reparaste no choro da guitarra? Já reparaste na forte voz que ela transmite, apenas com as suas cordas e com os dedos daquele mudo poeta? Sente a voz. Sente cada nota, mais alta e mais baixa. Repara na força da voz do fadista, que, em palavras, traduz o choro de uma simples guitarra. Sente a letra, a mensagem. A mensagem…sempre eterna. Fado, tão velho e tão actual! Não penses que não vais gostar. Aliás, não penses, sente apenas. Deixa que a força do Fado invada o teu coração, liberta-te apenas para ele. Sente cada choro, cada força, cada grito, cada voz, cada coração. Sente o Fado. Sente apenas a magia, o sonho, a fantasia, a dor. Sente a dor. Sente o sofrimento, a paixão, o amor. Sente. Não penses que não gostas, pois é uma música como qualquer outra. Mas sente, porque de mais nenhuma outra forma o vais perceber. Por vezes, nem sempre a mensagem é importante, mas a forma como ela é transmitida. Por isso, sente o Fado…

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mar de reflexão

Paro por um momento e mergulho num mar de reflexão em que invoco todos os sentimentos que me dominam, inclusive aqueles que desconheço. Vejo a tua imagem e um misto de certezas e incertezas, dúvidas e receios invadem-me. Em mim domina a infeliz certeza que te amo. Tudo se resume a dúvidas e especulações de que te sou indiferente. E, de repente, dissipam-se as dúvidas e regressam as certezas de que o que por ti sinto é verdadeiro. Simples amizade, complexo amor, inevitável ódio ou consequente desejo; cada um aparece e desaparece alternadamente, num ritmo espantoso e alucinante que me confunde. Regressam as dúvidas, os receios, os medos. O ciclo dá-se e designo-lhe vida. Mas há uma certeza que sempre perdura: a de que te amo.

sábado, 5 de julho de 2008

Acabou

Acabou. Tu quiseste, e assim será. Disseste-me que mais nada existiria entre nós. No início, julguei ser uma mentira, até que me apercebi que era verdade. No princípio, tentei ver isto como todos aqueles que me rodeiam me diriam. Tentei ver que também em nada resultaria e o problema não era meu, mas sim teu. Tu é que decidiste assim. Agora, passados uns minutos, tento ocupar o meu tempo com algo, tento não pensar em ti. Mas não consigo. Aquilo que inicialmente pensava tornou-se numa dor profunda, uma ausência de ti. O mundo pareceu desabar e no meio de todos os escombros, procuro uma salvação. Uma hipótese quase nula, de facto, mas mesmo assim busco-a, não cessando a esperança que me domina. E é essa vontade de resolver tudo, essa crença de que tudo isto não passa de mais um jogo, de mais uma brincadeira, que me faz sofrer ainda mais, que me faz querer-te ainda mais. Espero ansiosamente uma notícia tua, nem que seja uma simples palavra, que me mostre que nada está perdido. Que me mostre que há sempre esperança.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Insonoro telefonema

Peguei no telefone e liguei-te. Precisava de ouvir a tua voz. Nada te disse. Imaginava mil e uma coisas para te falar e no entanto nada te disse. Lembranças de ti, de nós dois, regressaram naquele momento. Lembranças de quando contigo partilhava carinhos e brincadeiras. Passou-se o tempo e com o tempo perdemos o que entre nós existia. Ouvi a tua serena voz que logo desligou pois ninguém respondia. Perdoa-me mas não consegui. Em mim domina o medo de errar, o medo de te perder. Sei que me perdoarias, sei que tens um coração de ouro. Mas não quero fazer-te sofrer, não quero, nem por brincadeira, dizer-te mentiras que tomas como que verdades. Não disse nada. Sorri apenas. Tu desligas-te e os sentimentos dominaram-me numa confusão de tristezas e alegrias. Arrependo-me de nada te ter dito e no entanto fico feliz por te ter ouvido. Amanhã tento de novo. E prometo-te, a serio que prometo, que te falarei. E ligar-te-ei, apenas para ouvir a tua voz.

A flor

Uma fragrância paira no ar. Um misto de cores e formas rodeiam-me. Contemplo uma pequena flor. Uma margarida, acho. Nunca percebi muito disto. Hoje em dia basta chegar ao pé da florista e pedir um arranjo. Ela responde-me: são orquídeas, senhor. Orquídeas…na altura até o nome me parece belo. Uma hora depois, já me esqueci. Seja como for, aprecio esta flor, chame-se ela como se chamar. É incrível como ali está, tão pequenina e frágil. Sobrevive a ventos, chuvas, pisadas e sabe-se lá mais quantas coisas. Está ali, balançando ao sabor do vento. O mesmo vento que bate na cara com uma serenidade tão característica. Ando mais um pouco. Verde, amarelo, vermelho ou um castanho tosco. São tantas as cores que confundem. Uma melodia ouve-se. Os pássaros acompanham o vento numa sinfonia requintada e humilde. Fecho os olhos e mais nada existe. O azul funciona como que uma terapia que te faz esquecer o que não importa. E voltam as memórias. Volta a saudade, a alegria, o orgulho. Volta todo um misto de emoções que não reconhecemos. Abro de novo os olhos. Tudo parece belo, cada vez mais belo. Aquela paisagem, tão igual a todos os outros dias, é hoje particularmente sublime, particularmente especial. Grito, se precisar. Choro, se necessitar. E falo, se sentir que é essencial. Porque não falar? Ninguém nos irá responder, é certo, mas haverá alguém a ouvir-nos. O passarinho pousado na árvore olha-me atentamente, como se escutasse tudo o que estou a dizer. De repente, chilreia. E eu ouço-o também. De novo contemplo a flor. Penso em leva-la para casa mas recuo com a minha decisão. Ela pertence ali e é naquele local que deve ficar. E vou-me embora. Despeço-me de tudo, da flor, do pássaro, do vento, das cores. E decido ir para onde pertenço.

Sinto-te

Sinto-te…Sinto-te tão presente quando não estás. Sinto que me olhas, que me proteges. Tento falar-te, mas por vezes não ouves o meu silêncio, essa imensidão de palavras que não consigo dizer-te. Tento aproximar-me de ti, do teu mundo tão distante e vazio. Olho-te e tu olhas-me, dizes-me aquilo que não é preciso soletrar, todas aquelas coisas impossíveis de disfarçar. Falas de um passado que ainda não passou, um futuro que parece não chegar. Relembras os acontecimentos que se passaram, ainda tão presentes. Mas calas-te. Não dizes nada. Não expressas os teus sentimentos, finges não sentir o que sentes. Distancias-te do que não te consegues separar. Foges do que queres, do que desejas, do que amas. Mas lutas para não o perder. És uma parte de mim que não me pertence, uma parte necessária e que não dispenso. És memória inesquecível, sentimento inexplicável, característica essencial. Relembras-me o que nunca fui, o que aprendi a ser. Ensinas-me a recordar aquilo que era, que se estava a perder. Entraste na minha vida de repente e lentamente tornaste-te naquilo que mais adoro. Pareces ser o que não és e és o que não transpareces. Revelas-te a cada dia passado como alguém que eu nunca pensei que existisse. Entraste no meu coração como que num beco sem saída, um local de onde nunca sairás. Comparo-te com o céu, por seres calmo, sereno, tranquilo. Mas és o mar, por vezes agitado, inseguro, mas sempre forte. Adoro-te pelo que és para mim, por tudo o que me ensinaste a ser. Trouxeste, de novo, à minha vida uma alegria anteriormente perdida. Não sei como te agradecer o facto de existires, de viveres, de te conhecer e de estares aqui, presente, mesmo quando estás ausente. Nenhum alfabeto inventado pelo Homem consegue expressar os sentimentos que fazem de nós aquilo que somos. Crescemos porque aprendemos a ser alguém e tu ensinaste-me a ser o que sou. Ensinaste-me que os pequenos momentos podem ser os mais especiais; ensinaste-me a viver cada dia com um sorriso nos lábios; ensinaste-me que cada pessoa é especial à sua maneira. Adoro-te por tudo o que és para mim. Nunca te irei esquecer.