quinta-feira, 3 de julho de 2008

A flor

Uma fragrância paira no ar. Um misto de cores e formas rodeiam-me. Contemplo uma pequena flor. Uma margarida, acho. Nunca percebi muito disto. Hoje em dia basta chegar ao pé da florista e pedir um arranjo. Ela responde-me: são orquídeas, senhor. Orquídeas…na altura até o nome me parece belo. Uma hora depois, já me esqueci. Seja como for, aprecio esta flor, chame-se ela como se chamar. É incrível como ali está, tão pequenina e frágil. Sobrevive a ventos, chuvas, pisadas e sabe-se lá mais quantas coisas. Está ali, balançando ao sabor do vento. O mesmo vento que bate na cara com uma serenidade tão característica. Ando mais um pouco. Verde, amarelo, vermelho ou um castanho tosco. São tantas as cores que confundem. Uma melodia ouve-se. Os pássaros acompanham o vento numa sinfonia requintada e humilde. Fecho os olhos e mais nada existe. O azul funciona como que uma terapia que te faz esquecer o que não importa. E voltam as memórias. Volta a saudade, a alegria, o orgulho. Volta todo um misto de emoções que não reconhecemos. Abro de novo os olhos. Tudo parece belo, cada vez mais belo. Aquela paisagem, tão igual a todos os outros dias, é hoje particularmente sublime, particularmente especial. Grito, se precisar. Choro, se necessitar. E falo, se sentir que é essencial. Porque não falar? Ninguém nos irá responder, é certo, mas haverá alguém a ouvir-nos. O passarinho pousado na árvore olha-me atentamente, como se escutasse tudo o que estou a dizer. De repente, chilreia. E eu ouço-o também. De novo contemplo a flor. Penso em leva-la para casa mas recuo com a minha decisão. Ela pertence ali e é naquele local que deve ficar. E vou-me embora. Despeço-me de tudo, da flor, do pássaro, do vento, das cores. E decido ir para onde pertenço.

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