sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Lágrima

Chorar. Chorar apenas. Sinto uma vontade enorme, inexplicável. Quero chorar, preciso de chorar. Sinto-me acorrentada a um corpo. Uma alma dentro de mim revolta-se. Quer sair. E eu não deixo. Sem ela, nada sou. Tornar-me-ia um mero corpo que habita sem realmente habitar. Sem alma, sou corpo que vive sem saber viver. Mas ela quer separar-se. Necessita de um momento de libertação, de fuga do eu e encontro com o nada. Lágrimas. Portadoras de emoções, tristezas sem luz, alegrias com sorrisos. Lágrimas porque soltam, porque quebram as correntes que aprisionam o eu a um corpo vulgar. Lágrimas porque doem e acalmam a dor. Lágrimas porque só vêm quando chega a verdadeira dor. Aquela dor tão bela que mesmo ferindo é a razão do meu ser. Dor que sinto mais que ninguém, dor ridícula de sentir. Posso sentir mais do que ninguém, mas essa é a verdadeira razão do meu existir. A dor. As lágrimas. As mágoas. Sinto demais, mais do que devia? Sim. Mas eu sou eu, única, verdadeira, genuína. E não sou como sou feita apenas de alegria. Sinto tudo, todas as emoções, ao mais profundo nível. Mas posso, assim dizer, que as sinto realmente. E quando realmente as sinto, necessito de chorar. Preciso de me libertar. Preciso dessa lágrima…

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Diferente...

Domina em mim um vazio algo estranho de definir. Uma vergonha por ser quem sou e por sentir o que sinto. Por ser uma estranha para mim mesma, por não me reconhecer em certos momentos. Por não saber quem sou quando me atacam tão arduamente os ciúmes, esses fatais inimigos do meu ser. Não me reconheço quando o desapontamento fere tanto que não consigo aceitar os factos. Não me reconheço quando a indignação é mais forte que a minha natural alegria. Sinto-me estranha quando reajo de formas invulgares, relativamente às minhas características pessoais. Não me reconheço quando sinto distanciamento apesar da grande proximidade. E sei que não sou eu no meu perfeito eu quando provoco esse mesmo distanciamento. Quando caracterizo o que está distante como estando tão próximo, tentando afastar, ridiculamente, o próximo que tanto necessito. É como que deixar o meu eu real para tentar regressar ao eu do passado. Algo que não posso voltar a ser. Alguém que não posso voltar a viver. Uma personagem que apaguei completamente de mim. Sou diferente, às vezes tão diferente que não me conheço. Às vezes, tão diferente, que não me orgulho. Sinto-me tão diferente, que eu, não sou eu….

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Carpe Diem

Estás tão próximo, tão perto, mesmo lado a lado e, no entanto tão distante, tão longe, que impressiona. A escalada para junto do teu ser foi impressionantemente fácil, exclusivamente simples. Perto de ti tudo era tão bom, tudo me fazia tão bem. A essência do teu ser tornou as mais simples acções do quotidiano em gestos tão singulares. O Carpe Diem dominava e tudo parecia ser melhor. A vida quando levada sem grandes preocupações e sem excesso de apreensão para que os pequenos detalhes sejam perfeitos, é maravilhosa. Os detalhes imperfeitos são os mais perfeitos e o acaso faz de um simples gesto, tão especial. A despreocupação torna as vulgares palavras, nas mais especiais. Provaste que o Carpe Diem existe e quando interiorizei essa ideia, quando te admirei por isso, afastaste-te. De novo, ensinaste-me uma lição de vida que, por infantilidade e ingenuidade, ignorei. Mostraste que apenas quando perdemos alguém é que sentimos a verdadeira falta que esse alguém faz. A desilusão que parecia dominar é, no entanto, a mágoa por uma lição tão importante ter sido ensinada de uma forma tão dolorosa. A aproximação e o distanciamento alternados mostram o quanto quero o passado. As palavras que feriram provocaram cicatrizes mal curadas que, de tempos em tempos, vão sendo abertas e doem, de novo. São palavras que, mais tarde, se tornam duvidosas relativamente à sua veracidade. Mas, no meio de tudo, volta o sorriso. No meio da dor, é possível esquecê-la e voltar a sorrir, de novo. Voltar a relembrar o passado. Porque, às vezes, é preciso sorrir, mesmo se de nada…

Não sei que faça...

As madrugadas são frias. As noites são sombrias. A incerteza reina. E eu…Não sei que faça. Não sei se deva falar mesmo não obtendo respostas ou mostrar que aprendi com os erros e calar-me. E esperar que as respostas surjam acidentalmente. Quando a rotina não passa de uma monotonia de horas e afazeres, nada me preenche a ponto de me impulsionar a produzir o que mais gosto. Por isso, mais nada resulta senão insipidez de palavras que já não preenchem. Preenchem no entanto as folhas. Tornam a consciência mais calma, porque no fim, existe a certeza que, mesmo que infantilmente lucrativo, foi realizado. Mas reside a incerteza, tal como no início, cujo sentimento que reina é a incompetência por não saber que actos devem de facto ser realizados. Até porque não há respostas. Ninguém as dá. E eu…Não sei que faça.

Confidente

Quando me vejo rodeada de nada, apercebo-me do quanto necessito do tudo. Em mim reina hoje a indecisão e a felicidade. Duas formas distintas de encarar diferentes situações. Não tendo qualquer forma de expressar o que sinto, refugio-me numa folha. Procuro envergar-me numa tumulto de palavras para que me possa sentir melhor, para que possa demonstrar o que neste momento sou. Não tendo um confidente possível nem sequer qualquer forma, quaisquer palavras, para expressar o que sinto, uso a única forma que me parece ser possível. De duas situações distintas, dois sentimentos despertaram. Sentindo-me numa corda bamba de incertezas e expectativas, o factor erro torna difícil a ocorrência de qualquer decisão. O conhecimento de certos factos, ditos em meras palavras, provoca uma desilusão aparentemente impensável. No entanto, é extremamente gratificante reparar o quanto uma palavra ou um gesto pode mudar tudo. Não obstante, reflicto o quanto me encontro ligada a um passado, um tempo que não existe mais mas que permanece diariamente junto a mim. Não sei se o quero, a verdade é que não queria. Mas mesmo após todo este tempo, continua comigo. É inseparável. Todos os erros do passado fizeram com que, no presente, não assuma qualquer posição, a fim de evitar que os erros vividos se repitam. O medo, o recuo, faz com que o passado, apesar de não depender unicamente de mim, se mantenha comigo. E impede o futuro de chegar, pelo menos, da forma como, em determinados momentos, queria. Separar-me de algo que fui, que me tornou o que sou, é, a cada dia, mais difícil. Quando me parece que o objectivo está a ser cumprido, noto o quanto queria o regresso do passado. O tempo em que tudo estava bem. Quanto mais me parece que me estou a afastar, mais este se aproxima. No meio de toda a confusão, no meio de todas as palavras, de todas as incertezas e dúvidas, não sei o que quero, porque quero o que não quero. E assim, no meio de todas as linhas posso tentar encontrar-me, eu, que estou aqui, tão perdida, tão distante mas tão presente. Eu, que estou parada no nada, dividida no passado e no futuro esperando que, neste presente, me consiga encontrar. Ou que me consigam encontrar.
Sou dois livros com uma mesma capa. Dois estilos diferentes de uma só história. Sou lida consoante os dias, os tempos, as alturas. Sou duas faces e mostro uma mesma cara. Quem me lê aprofundadamente conhece todas essas diferenças que me tornam tão igual a mim mesma. Mergulho num mar de palavras quando não suporto mais a pressão de todos os sentimentos que me dominam e que fazem de mim um cofre de lotação completamente esgotada. Consigo ser o que não sou porque parte de mim quer fugir de uma rotina fatigante e que me assombra. Tento, no entanto, e posteriormente, regressar a mim; a um eu que desprezo verbalmente e que adoro espiritualmente. Quando regresso a mim posso analisar todos os erros que cometi, posso tentar soluciona-los. Peço desculpa, sou um mero ser humano envergado por sensações e acontecimentos que moldam a sua reacção. Possuo, no entanto, uma personalidade que me define e essa, garanto, não mudara. Porque posso ser dois livros diferentes, mas possuo a mesma capa. E a mesma historia.

Momentos

Sinto-me sozinha. Sinto-me perdida numa imensidão de nada. Sinto saudades de tudo. De todos. Num ou outro momento em que envergo nesta solidão dou comigo a fraquejar e entrar num mundo de fantasia. Vejo um beijo com o passado e uma relação com o futuro. Momentos de fraqueza, nos quais noto que parte de mim não se divorciou daquela parte que desejo ocultar. Momentos de solidão em que dou comigo a mirar-me num espelho interior e a notar que esse tão desejado futuro não acontece pelo simples facto de que não surge, de mim, nenhum acto para que tal se realize. Momentos de solidão e fraqueza que me fazem pensar no que tenho e no que, daqui a algum tempo, não sei se terei. Momentos de fraqueza em que me torno numa fraca que não quero ser e demonstro a insegurança que em mim reina. Momentos de fraqueza em que a única força é saber que possuo quem e o que possuo. Momentos de solidão em que a única alegria é estar a trabalhar para que este texto possa ser lido. E momentos nos quais preciso do gesto certo….

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Espero arduamente

Tudo parece estar parado. O meu mundo parece estar suspenso no tempo esperando que o tempo passe e que tudo regresse ao normal. Que tudo comece de novo. Que tudo aconteça, de novo. Sinto que em meu redor os dias passam e tudo é igual. Todos os gestos, todas as palavras…tudo. Calo-me não falando de determinados assuntos esperando um sinal que me faça retomar esse tema. No entanto, esse mesmo sinal parece não surgir. Estou presa em mim e na rotina de um nada para fazer, do qual não me consigo libertar. Como não falo, não surgem as palavras. Como não ando, não surgem as visitas. Como estou presa ao nada, nada acontece. O meu dia-a-dia resume-se a uma ou duas casas, a umas poucas de pessoas, e a uma rotina fatigante. Espero arduamente que o tempo passe e tudo aquilo que ficou suspenso no tempo possa finalmente renascer e tudo voltar ao normal. Espero arduamente…

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Escondo-me

Escondo-me nas páginas perdidas de um caderno abandonado que nunca existiu. Refugio-me nas palavras não escritas que inutilmente pensadas foram posteriormente ditas em frases silenciosas. Perco-me na confusão de tinta que tão fielmente me segue. Que me faz tão bem. Uso as vulgares palavras descrevendo insignificantes momentos, pensamentos, sentimentos. Insignificantes memórias tão especiais. As páginas cansadas de um caderno ainda novo vão-se preenchendo de ditos desditos posteriormente, de orgulhos ridicularizados. Do bem essencial mais inútil. Mais ineficiente e mais eficaz. Uso esse acto tão vulgar para expressar tudo o que não tenho coragem de dizer, de mostrar. Tudo o que não sou capaz de revelar. Páginas de palavras sem significado e tão significativas. Escondo-me nas páginas perdidas de um caderno abandonado para me retratar tal como sou ou como queria ser. São páginas cansadas de me escutar e de carregar uma parte de mim. Essas páginas escritas…São partes de mim.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Necessidade

Fujo do que sinto. Minto-me a mim mesma. Não quero, não consigo admitir que algo posa acontecer. Não quero cair no mesmo erro, na mesma tentação. Por outro lado, não consigo fugir, não consigo ignorar. Tens um magnetismo especial que me fixa a ti. Mas tenho medo de me magoar, de te magoar. Regressa depois a ridícula necessidade de escrever. Essa capacidade que ignoro e desminto invade-me, suplica-me fervorosamente que produza algo, que faça algo. No entanto não consigo. Tento ignorar-te mas ao escrever só penso em ti. Não arranjo, não consigo descobrir, outra forma de escrever. Escrevo pensando em ti mas penso em não pensar em ti. Confundo-me. Preciso daquele alguém que arranca em mim frases filosóficas, tão ingénuas e verdadeiras. Aquelas frases tão lindas! Pareces cada vez mais ser essa pessoa. E eu…entristeço-me! Percebo mais que nunca que este fado é tristeza. Percebo aqueles que constantemente entregam o seu coração a alguém para depois o entregar ao papel. Ao amor pela escrita. Porque apesar de existir o dom, falta a inspiração. Entrego-me somente à caneta, ao papel, à imaginação. Porque podes nem ser tu essa fonte mas precisarei de ti, igualmente. Precisarei de ti, tal como de escrever.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Enigma

És tão igual, tão parecido, a mim. As características em comum são tantas, as semelhanças são inúmeras, que se tornam um pouco assustadoras. Somos tão iguais, tão idênticos que não consigo compreender-te. És-me tão semelhante que nem me é possível decifrar o teu ser. És tão igual e tão diferente. As semelhanças são tantas que se contradizem. São tantas que se tornam uma aparência ilusória que revela uma contradição de todas as analogias e uma afirmação de todas as contradições. És tal e qual eu, fechaste para todos da mesma maneira e apenas transmites uma certa parte daquilo que és, uma certa imagem que, por vezes, nem corresponde à verdade. É essa forma tão idêntica de possuíres um mistério tão próprio, é essa forma de estar tão igual que parece que escondes algo, é essa resolução que seria tão semelhante, que torna impossível que te conheça. Sendo a resolução deste enigma o mesmo para ambos, não consigo chegar até ti e poder decifrá-lo. Não consigo e não sei porquê. Porque mesmo procurando na lógica de todo o existencialismo uma explicação fundamentada para tal acontecimento, não existe maior mistério do que desconhecer aquele que melhor conhecemos. Porque até os nossos idênticos, até aqueles que nos acompanharam uma vida inteira se tornam uns desconhecidos. Porque é essa busca incessante do conhecer, essa procura, por vezes, desesperada, do desconhecido que desperta o prazer do descobrir. O prazer do admirar, do questionar. O prazer de conhecer. De decifrar e de cifrar. Porque quanto mais decifrado parece o enigma, mais cifrado se tornará.