terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Enigma

És tão igual, tão parecido, a mim. As características em comum são tantas, as semelhanças são inúmeras, que se tornam um pouco assustadoras. Somos tão iguais, tão idênticos que não consigo compreender-te. És-me tão semelhante que nem me é possível decifrar o teu ser. És tão igual e tão diferente. As semelhanças são tantas que se contradizem. São tantas que se tornam uma aparência ilusória que revela uma contradição de todas as analogias e uma afirmação de todas as contradições. És tal e qual eu, fechaste para todos da mesma maneira e apenas transmites uma certa parte daquilo que és, uma certa imagem que, por vezes, nem corresponde à verdade. É essa forma tão idêntica de possuíres um mistério tão próprio, é essa forma de estar tão igual que parece que escondes algo, é essa resolução que seria tão semelhante, que torna impossível que te conheça. Sendo a resolução deste enigma o mesmo para ambos, não consigo chegar até ti e poder decifrá-lo. Não consigo e não sei porquê. Porque mesmo procurando na lógica de todo o existencialismo uma explicação fundamentada para tal acontecimento, não existe maior mistério do que desconhecer aquele que melhor conhecemos. Porque até os nossos idênticos, até aqueles que nos acompanharam uma vida inteira se tornam uns desconhecidos. Porque é essa busca incessante do conhecer, essa procura, por vezes, desesperada, do desconhecido que desperta o prazer do descobrir. O prazer do admirar, do questionar. O prazer de conhecer. De decifrar e de cifrar. Porque quanto mais decifrado parece o enigma, mais cifrado se tornará.