domingo, 30 de novembro de 2008

Retrato nosso

Reparo num retrato perdido, nosso. Retrato de há tanto tempo mas ainda tão recente. Relembro o momento da sua existência. Recordo-o com saudade, o mesmo sentimento que sinto acerca da tua pessoa. Tenho saudades de te conhecer verdadeiramente, tal como acontecia naqueles particulares momentos, tão singulares e vulgares. Os retratos não passam da capa de uma história nossa, um passado já escrito cujas entrelinhas apenas nós conhecemos. Cuja escrita é apenas nossa. Cujos protagonistas somos nós. As promessas de acabar o conto com o costumado final feliz foram quebradas pelo nosso afastamento. Agora falta a coragem para pegar na caneta e recomeçar o inacabado. Falta preencher as páginas com as palavras todas que ficaram a pairar no ar, que ficaram por dizer. São tantas, que desisto de as tentar pronunciar. Pertencem ao passado e, no entanto, estão ainda tão presentes. Olho para o retrato do passado e vejo-te completamente diferente. Estás diferente, muito diferente. Passo por ti agora e sinto que já nem te conheço, sinto que te transformas-te interiormente, tornando-te desconhecido para mim. Mas tudo não passam de retratos que fazes questão de ignorar quando, de vez em quando, relembro. Porque são esses retratos que nos fazem sorrir. E um dia, assim o espero, finalizaremos a nossa história. Porque todos temos uma.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Desconhecido

Olho para uma imagem tão comum, de mim, uma imagem tão desconhecida. Olho-me seriamente tentando decifrar aquilo que vejo, tentando ver o invisível. Desconheço-me, não sei quem sou. Olho para um exterior que me é depreciativo, que nada me diz. Busco-me na incerteza de especulações, na vivência diária de uma vida sem rumo exacto, sem destino certo. Ultrapasso obstáculos constantes, diariamente. Escondo emoções e opiniões com medo de errar aquando do pronunciamento dessas mesmas palavras. Chego ao fim do dia, cansada de tudo e, num papel, desabafo incertamente, confusamente. São ideias desorganizadas que recolho e tento sequenciar, escusados gestos que, no entanto, me mantêm ocupada. Gestos que sei não serem eternos. Escrevo palavras infiéis a sentimentos, retratando uma lição de vida aprendida na simplicidade de um gesto. E são muitas as lições. Olho para mim e busco as mudanças positivas que terão surtido, procurando razão essencial para a busca constante da essência da vida. Olho para mim e desconheço-me. Vasculho o álbum de memórias e imagens, relembrando aquilo que sou e que fui, desconhecendo a razão pela qual existem tantas diferenças entre aquilo que sou em diferentes fases de mim. Admiro algumas qualidades minhas, sem saber qual a razão para a sua presença incansável. Arrependo-me dos meus defeitos. Sou mero corpo habitante de uma realidade, tendo-me sido atribuído um nome. É esse o nome que busco como identidade pessoal, marca de mim, de quem sou. A imagem continua, ainda desfocada. E desconheço-me, não sei quem sou.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Míseros momentos

São inúmeros os míseros momentos que por nós passam tão rapidamente, sem deixar qualquer marca da sua presença. E são tão poucos, aqueles que ficam na lembrança, que deixam o seu rasto. Acontecem subitamente sem serem planeados. Pois só esses são verdadeiramente especiais. São velozes, pouquíssimo tempo duram. São momentos tão inocentes e tão doces! Na altura, parecem tão singulares e habituais que não lhes são dado o seu real valor. Deixam-nos, depois, a pensar. Deixam-nos seriamente contentes por aquele momento tão vulgar e tão único. Somos mentes e corpos desejosos de obter uma felicidade tão inocente que chega a ser ridícula. Esperamos tempos infinitos por um momento especial, um toque especial, um olhar especial. É tanto o tempo gasto com sonhos e ambições que o tempo passa ao lado, arrastando consigo memórias particulares. São ocasiões especiais bruscamente deitadas fora, por culpa única e singular da preocupação com a mísera vida. De que serve viver, cumprir horários e ordens se não possuímos forças para tais actos? Alegria. Sorriso. Felicidade. Palavras mágicas por que todos lutamos, buscando-as em grandes actos. São, porém, tão fáceis de alcançar em pequenos momentos. É preciso saber aproveitar, saber viver. Não basta planear aquilo que de melhor será para nós, no futuro, mas buscar nos simples gestos do presente a razão de viver. É preciso abrir o coração, enchendo-o de tudo o que de bom um simples olhar pode dar. Porque mais tarde, obstáculos surgirão. Um dia mais tarde, não haverá razão para sorrir. E será aí que buscaremos a alegria das memórias, dos míseros momentos passados, como uma cura contra a tristeza. Porque o amor…cura tudo!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Álbum de memórias

Peguei em pedaços divididos, de mim. Memórias que vagueavam numa agitação constante, regressando do nada, inesperadamente, e escondendo-se quando eram necessárias. Ordenei-as confusamente sendo estas irrequietas demais. Queria sequencia-las num álbum da minha vida, álbum esse com tantas páginas mas ainda tão pequeno. Olho para o passado relembrando o que se passou, e só agora entendo os erros que cometi. São tantas as coisas que gostava de corrigir, tantos os erros que gostava de evitar... Seria, assim, uma vida perfeita, e não terrena. São os erros cometidos que nos ensinam a crescer. São lições aprendidas instantaneamente com equívocos nos quais só reparamos tempo depois. E são tantas as vivências nas quais gostava de participar, de novo. São tantas as memórias irrequietas que relembro, acalmando-se estas para as conseguir agarrar. Vão agora surgindo umas outras, anteriormente recalcadas e disfarçadas, ínfimos pormenores que há muito me havia esquecido. São tristezas e alegrias, arrependimentos e orgulho. É o orgulho em ser quem sou e em quem participa nas fotos desfocadas da minha alma. É o retrato de quem sou, pintado por inúmeros protagonistas da mísera história da minha vivência. É um conto no qual não se sabe o final, o desenrolar ensurdecedor de uma melodia irrepreensível. É uma máscara que protege e camufla tudo lá dentro, o espelho que não consegue transmitir um interior tão simples. É a fórmula fundamental baseada apenas nas lições aprendidas com outros tão especiais, sendo a sua resolução tão simples como o uso das memórias como método. É um simples e imenso álbum. Organizo as minhas memórias num álbum. E esfolho agora as suas páginas recordando o que se passou. Com um sorriso e uma lágrima…

domingo, 12 de outubro de 2008

Amo-te

Teus olhos cintilam numa felicidade infantil e inocente. Brincadeiras nossas, tão subtis, que se encarregam de me conferir uma alegria que não consigo definir. Paro por uns segundos apreciando teu olhar tão brilhante, resplandecente. Em ti existe um sorriso maravilhoso que me faz sentir realizada, que me faz sentir bem. Sem pensar em mais nada, de mim sai aquela palavra tão forte e tão bela: amo-te. E depois, paro, olho-te. Domina agora em mim o receio da tua reacção, da tua resposta. Penso em pedir desculpa, pois foi um acto involuntário. De ti, apenas chega um sorriso acompanhado com uma doce voz que diz: eu também. Só depois me apercebo que para ti, aquele “amo-te” refere-se a um amor de amigos. De amizade, nada mais. Mas sabe tão bem poder estar perto de ti, dizer-te que te amo, mesmo que encares isso como uma brincadeira. É tão bom poder abraçar-te, ver-te feliz. Sinto-me completa. Tu dizes-me que me amas também, apesar de saber que é apenas uma brincadeira. Mas a sério, dizes-me que te faço bem, que comigo és feliz. Eu sorrio para ti. E depois, abro os olhos. Acordo. Tudo não passou de um sonho.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Silêncio

Prezo a calma e serenidade do silêncio quando me vejo perdida no meio da confusão, atropelada por berros e gritos que não consigo calar, quando parece não haver saída eminente. Anseio o recanto do nada, quando em mim são projectados objectivos e projectos forçados, sem possível fuga para estes. Meu Deus, quanto desejo ausentar-me do barulho e confusão que me assombra, quando só quero estar recatada no meu canto, aglutinando as peripécias da minha vida, boas e más, num baralho de cartas que ponho em cima da mesa e jogo com elas….jogar com a minha vida! Quanto eu queria fechar-me à chave, muito bem escondida para ninguém me descobrir e poder descansar e aliviar-me de tudo. E depois, o tão desejado silêncio vem. Delicioso, tão querido! Sabe tão bem, no início. Os primeiros instantes são fantásticos, ouvindo uma melodia surda. Não existe melhor terapia, melhor relaxamento. E depois começa a saturar. As cartas com que inicialmente jogava viram-se contra mim por tentar controla-las. Dizem ser conduzidas por esforços e sorte, e não jogadas como um jogo qualquer, no qual evitamos tristezas. O silêncio transmite, agora, uma melodia ensurdecedora à qual tento fugir. O nada torna-se cansativo, saturante. Desejava ouvir o som do silêncio mas agora só quero dele fugir. Olho para o nada e este torna-se tão vazio, tão escuro, tão frio. Lá fora ouço os risos de felicidade… As mais belas sensações são transmitidas na calma do silêncio: o silêncio de um olhar, de um sorriso, de um beijo. Os mais belos sorrisos são criados pelas mais simples palavras. O poder do silêncio. Tão forte, desejado, querido. Tão saturante, cansativo. As mais belas palavras são ditas no silêncio, mas as mais belas gargalhadas são partilhadas, bem alto, para todos ouvirem. E para todos sorrirem. Silêncio….Levanta-te e, em silêncio, aplaude a vida.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Raiar de fúria

Um raio. Segundos depois, outro. Uma raiva admirável, a fúria da Natureza. Uma fúria calada, silenciosa. O nervosismo acumulado numa imensidão de matéria que explode aquando no pico do aglutinar de acontecimentos contraditórios ao normal ou à vontade. Horrível e triste para uns, maravilhoso e fantástico para outros. Sua silenciosa presença provoca grandes danos, não só físicos, mas também o receio da sua vinda, da sua chegada, da sua revelação. Provoca o maravilhamento àqueles despreocupados que acreditam e sabem que é assim e mais nada pode ser feito. E depois, explode mais uma vez, e outra, e outra… Mal se nota a sua presença. Nada a acalma, nada existe para calar o raiar de fúria e nervos daquela escuridão. Nada sufoca aquele desespero. Nada se intromete. E explode mais uma vez.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Perdoa-me

Sinto-me frustrada, frustrada por lutar por algo já inicialmente perdido, frustrada por acreditar que o irremediável pode melhorar. Invento mil e uma coisas para fazer como tentativas escusadas para não pensar no que sou, nos erros que cometi. Quero resolve-los, enfrenta-los, mas falta-me a coragem, a força. Faltam-me os meios. Estraguei tudo dizendo brincadeiras que tomaste como verdades, inventando desculpas para erros nos quais reparaste, erros que nos afastaram no único momento em que conseguimos superar os defeitos e nos aproximamos. Estraguei tudo, brincando com algo que era, afinal, tão sério para ti. E agora preciso de ti mais do que nunca. Fazes-me falta. Não sei como te mostrar o quanto arrependida estou, não sei como te pedir perdão, pois sinto que apenas essa palavra não é suficiente. Tento voltar atrás, queria voltar atrás. Tu não deixas, não cooperas. Agora sinto-me só, mais só do que sozinha. E espero que me perdoes para que possamos voltar a ter aquilo que tínhamos. Aquilo, nem sei bem o quê. Mas aquilo tão belo, que o quero, e não sei bem porquê.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Já é passado

Questiono-me se alguma vez me conheceste verdadeiramente. Fizeste juras e promessas nas quais acreditei, nunca pondo em causa a tua palavra. “Acredita em mim”, dizias-me. E eu acreditava. Mas depois, viravas costas e eras mais um, mais um desconhecido, mais um daqueles que não se importam. Sentia-me triste. Tu notavas e dizias que estava tudo bem. Sabias sempre convencer-me. Quis confiar em ti, crer que o que por mim dizias sentir era verdadeiro. Sentia uma ausência de ti mesmo quando me abraçavas. Não te sentia, deixei de sentir. Por vezes tinha a sensação de ser um mero objecto que manipulavas, numa tentativa de distracção quando não tinhas coragem para enfrentar todos os teus problemas. Depois separamo-nos. Julguei que viria a ter saudades tuas, mas não. Saudades….Não, não eram saudades. Apenas não queria perder as memórias que tinha de ti. As boas memórias, não as de quando me mentias. E tirando essas, poucas ficam. Não te odeio, essa fase já passou. Tenho um pouco de pena por não te conseguires entregar verdadeiramente a alguém. Fico triste por saber que me usaste, me mentiste, me manipulaste. Agora estou bem, estou feliz. E também te quero ver feliz. Sei que tens medo de mostrar o teu outro lado. Mas acredita que quando essa tempestade de sentimentos, de medo e vergonha, de receio e dúvidas, de certezas e incertezas, passar, tudo ficará bem. Ficarás bem. Acredita. Porque depois da tempestade, o sol regressa sempre.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Tempestade

Férias. Como é habitual, fico mais um pouco deitada. Mas hoje, estranhamente, algo me parecia dizer para não ficar mais ali. Levantei-me. Abri a janela. Um friozinho agradável invadiu o quarto. Sorri para tudo. Ouvia-se o chilrear dos pássaros, pela manhã. Ainda tudo estava silencioso. Todo aquele silêncio me fez pensar o quanto é bom estar assim, sem nada planeado, sem compromissos. E, de repente, memórias do passado voltam, regressam inesperadamente, sem serem desejadas. E, por uns momentos, receio aquilo que pensava ser o que mais queria. O sonho de reviver momentos passados assombra-me, como uma tempestade de saudade, amor, ódio e desejo. Continuo a minha manhã, fazendo tudo aquilo que tenho a fezer. E, de repente, começa a chover. A Natureza parece ter escutado a melodia desafinada que nesse momento me assombrava. E acompanhou-a. Todos os pensamentos aos quais há muito tentava fugir, que há muito evitava, foram-me invadindo alternadamente. E todos eles me entristeceram. Mas agora, lá fora, a chuva começa a abrandar, como se já tivesse cumprido o seu objectivo. E quando a tempestade acabar, quando a chuva passar, voltarei a sorrir e a viver o dia plenamente, sem medo das consequências.

sábado, 9 de agosto de 2008

Distante de ti

Há já algum tempo que não te vejo e sinto que te posso perder. Tenho medo que a distância nos torne, de novo, meros desconhecidos. Sinto receio de te perder, de te desconhecer, que te afastastes mais do que o que já estás. Cada escassos minutos que vão passando parecem intermináveis horas e apenas anseio o dia em que te voltarei a ver. A distância faz-me querer-te, desejar-te. Tenho medo que me esqueças e, em parte, também tenho medo de te esquecer. Espero ansiosamente uma mensagem tua, mas admito que o som da tua particular voz sabe muito melhor. Aqueles escassos momentos em que te ouço relembram-me o quanto te quero junto a mim. O teu nome aquando na chamada provoca-me uma imensa alegria, algo estúpida, que não consigo explicar. Não sei o porquê de todos estes sentimentos, mas a verdade é que tu, e apenas tu, mos provocas. E agradeço todos estes sentimentos, todas as alegrias e tristezas, ânsias e dúvidas. Agradeço a esperança que me dás quando para mim falas. Agradeço, pois é por causa de ti que a minha vida tem sentido.

sábado, 2 de agosto de 2008

Lá fora, a chuva cai

Verão. A quente tarde, surpreendeu com a vinda não prevista mas há muito desejada da chuva. As pingas, relativamente grossas, caíam numa silenciosa sintonia, num delicioso ritmo. Tudo estava calmo. O ar, abafado e quente, contrastava com o céu cinzento, nublado. Ganhei aquilo a que muitos designam de coragem e outros de loucura, e saí para a rua. Fiquei ali, quieta, parada. As pingas percorriam a minha face sempre com a mesma calma e serenidade. Uma frescura percorria-me o corpo, provocando uma fantástica sensação. Cheirava a terra molhada. Não havia chovido ainda muito, mas tinha sido o suficiente para provocar a existência daquele cheiro, tão singular, tão intenso, tão maravilhoso. Não se ouvia um único som, à excepção do da chuva. Tudo parou, tudo se silenciou, para desfrutar da melodia das pingas caindo sobre os beirais das casas, ou sobre a estrada, ou sobre outra coisa qualquer. Chuva de Verão. Quente e fresca, intensa e serena, deliciosa e singular. O Sol vai tentando espreitar por entre as nuvens, numa tentativa forçada de demonstrar que também ele quer participar neste retrato de natural beleza. Entrei para casa e sentei-me junto à janela, olhando para além dos vidros. E lá fora, a chuva cai.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Conversa de café

Estava sentada numa esplanada de um simpático café lendo uma daquelas revistas vulgares que coscuvilham a vida de todos aqueles famosos e nos relatam todos os passinhos que estes dão. Acompanhava a leitura com um café, para mim, indispensável àquela hora do dia. Entras-te e sentaste-te na mesa ao lado. Pediste também um café e abriste o jornal que trazias debaixo do braço, enquanto esperavas. Senti algo que não te sei definir o que foi mas que me deixou intimidada. Por instantes, uma súbita vontade quase fez com que metesse conversa, mas o medo e a vergonha foram mais fortes. Calei-me e li mais umas páginas que relatavam os acontecimentos de telenovelas que nem sequer acompanhava. Mas tu falaste. Fizeste uma pergunta qualquer à qual eu não conseguia responder. Faltavam-me as palavras, tinha receio de errar. Arrisquei. A conversa durou mais uns curtos vinte minutos. O jornal e a revista foram desprezados e a leitura deu lugar a uma rápida conversa de café, acompanhada por duas bicas, como se diz cá no sul. Falamos de tudo o que era possível e imaginário, gozamos e criticamos os erros de um alguém que agora não importa, elogiamos um outro que sabemos daqui por uns dias estar a dizer exactamente o contrário. A pergunta surgiu envergonhada e a conversa decorreu animada. Não sabia quem tu eras, de onde tinhas vindo, o que estavas ali a fazer. Mas desde o momento em que entraste ali, que puxaste uma cadeira, que te sentaste e que abriste delicadamente o jornal, que gostei de ti. Simpatizei logo contigo tal como pareceu que simpatizaste comigo. Mas o tempo depressa passou e o relógio anunciou a hora da tua despedida. Levantaste-te, despediste-te e docemente disseste que no dia seguinte regressarias. E amanhã lá estarei, para mais uns elogios, mais umas criticas, para mais uma conversa.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Amizade de desconhecidos

Fomos tudo, amigos, amantes sem o sermos, por vezes, meros desconhecidos que ansiavam conhecer-se. E não éramos nada. Conhecíamo-nos, desconhecendo aquilo que éramos. Desconhecendo, até, aquilo que sentíamos. Separámo-nos por algum tempo, pensando estar sempre juntos. O tempo passou, como o mar que enchia de ansiedade por te ver, esvaziando e levando consigo a aproximação existente. Estavas ao meu lado, mas sempre tão distante de mim. Já não consigo comunicar contigo da mesma forma que comunicava, naquele tempo em que apenas um olhar bastava. Sinto que te não conheço, que te quero descobrir, de novo. Mas fechas-te na tua concha, não te deixas revelar. Manténs-te imparcial a sentimentos e emoções, não os deixando transparecer. Revelas-te como uma contradição de ti próprio, uma moeda com duas faces. Dizes, desmentindo logo de seguida. Confundes, afastas e aproximas. Tudo parece um jogo no qual me tentas enfraquecer e confundir. De facto, já o conseguiste mas arranjo a força necessária para continuar a lutar por ti. Força essa, muitas vezes, que tu me dás. Sinto que aquilo que tínhamos nunca mais será recuperado, são ondas passadas, que não voltam mais. Mas juntos, se assim o desejares, podemos alcançar algo mais do que esta amizade de desconhecidos. E voltaremos a revelar-nos, voltaremos a conhecer-nos, voltaremos a completar-nos.

domingo, 13 de julho de 2008

Sente o Fado

Liga o rádio. Sincroniza numa música. Escolhe o Fado. Ouve. De início não vais gostar. Sente o Fado. Deixa-te envolver. Não penses em mais nada, não penses que não vais gostar. Sente a música. Já reparaste no choro da guitarra? Já reparaste na forte voz que ela transmite, apenas com as suas cordas e com os dedos daquele mudo poeta? Sente a voz. Sente cada nota, mais alta e mais baixa. Repara na força da voz do fadista, que, em palavras, traduz o choro de uma simples guitarra. Sente a letra, a mensagem. A mensagem…sempre eterna. Fado, tão velho e tão actual! Não penses que não vais gostar. Aliás, não penses, sente apenas. Deixa que a força do Fado invada o teu coração, liberta-te apenas para ele. Sente cada choro, cada força, cada grito, cada voz, cada coração. Sente o Fado. Sente apenas a magia, o sonho, a fantasia, a dor. Sente a dor. Sente o sofrimento, a paixão, o amor. Sente. Não penses que não gostas, pois é uma música como qualquer outra. Mas sente, porque de mais nenhuma outra forma o vais perceber. Por vezes, nem sempre a mensagem é importante, mas a forma como ela é transmitida. Por isso, sente o Fado…

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Mar de reflexão

Paro por um momento e mergulho num mar de reflexão em que invoco todos os sentimentos que me dominam, inclusive aqueles que desconheço. Vejo a tua imagem e um misto de certezas e incertezas, dúvidas e receios invadem-me. Em mim domina a infeliz certeza que te amo. Tudo se resume a dúvidas e especulações de que te sou indiferente. E, de repente, dissipam-se as dúvidas e regressam as certezas de que o que por ti sinto é verdadeiro. Simples amizade, complexo amor, inevitável ódio ou consequente desejo; cada um aparece e desaparece alternadamente, num ritmo espantoso e alucinante que me confunde. Regressam as dúvidas, os receios, os medos. O ciclo dá-se e designo-lhe vida. Mas há uma certeza que sempre perdura: a de que te amo.

sábado, 5 de julho de 2008

Acabou

Acabou. Tu quiseste, e assim será. Disseste-me que mais nada existiria entre nós. No início, julguei ser uma mentira, até que me apercebi que era verdade. No princípio, tentei ver isto como todos aqueles que me rodeiam me diriam. Tentei ver que também em nada resultaria e o problema não era meu, mas sim teu. Tu é que decidiste assim. Agora, passados uns minutos, tento ocupar o meu tempo com algo, tento não pensar em ti. Mas não consigo. Aquilo que inicialmente pensava tornou-se numa dor profunda, uma ausência de ti. O mundo pareceu desabar e no meio de todos os escombros, procuro uma salvação. Uma hipótese quase nula, de facto, mas mesmo assim busco-a, não cessando a esperança que me domina. E é essa vontade de resolver tudo, essa crença de que tudo isto não passa de mais um jogo, de mais uma brincadeira, que me faz sofrer ainda mais, que me faz querer-te ainda mais. Espero ansiosamente uma notícia tua, nem que seja uma simples palavra, que me mostre que nada está perdido. Que me mostre que há sempre esperança.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Insonoro telefonema

Peguei no telefone e liguei-te. Precisava de ouvir a tua voz. Nada te disse. Imaginava mil e uma coisas para te falar e no entanto nada te disse. Lembranças de ti, de nós dois, regressaram naquele momento. Lembranças de quando contigo partilhava carinhos e brincadeiras. Passou-se o tempo e com o tempo perdemos o que entre nós existia. Ouvi a tua serena voz que logo desligou pois ninguém respondia. Perdoa-me mas não consegui. Em mim domina o medo de errar, o medo de te perder. Sei que me perdoarias, sei que tens um coração de ouro. Mas não quero fazer-te sofrer, não quero, nem por brincadeira, dizer-te mentiras que tomas como que verdades. Não disse nada. Sorri apenas. Tu desligas-te e os sentimentos dominaram-me numa confusão de tristezas e alegrias. Arrependo-me de nada te ter dito e no entanto fico feliz por te ter ouvido. Amanhã tento de novo. E prometo-te, a serio que prometo, que te falarei. E ligar-te-ei, apenas para ouvir a tua voz.

A flor

Uma fragrância paira no ar. Um misto de cores e formas rodeiam-me. Contemplo uma pequena flor. Uma margarida, acho. Nunca percebi muito disto. Hoje em dia basta chegar ao pé da florista e pedir um arranjo. Ela responde-me: são orquídeas, senhor. Orquídeas…na altura até o nome me parece belo. Uma hora depois, já me esqueci. Seja como for, aprecio esta flor, chame-se ela como se chamar. É incrível como ali está, tão pequenina e frágil. Sobrevive a ventos, chuvas, pisadas e sabe-se lá mais quantas coisas. Está ali, balançando ao sabor do vento. O mesmo vento que bate na cara com uma serenidade tão característica. Ando mais um pouco. Verde, amarelo, vermelho ou um castanho tosco. São tantas as cores que confundem. Uma melodia ouve-se. Os pássaros acompanham o vento numa sinfonia requintada e humilde. Fecho os olhos e mais nada existe. O azul funciona como que uma terapia que te faz esquecer o que não importa. E voltam as memórias. Volta a saudade, a alegria, o orgulho. Volta todo um misto de emoções que não reconhecemos. Abro de novo os olhos. Tudo parece belo, cada vez mais belo. Aquela paisagem, tão igual a todos os outros dias, é hoje particularmente sublime, particularmente especial. Grito, se precisar. Choro, se necessitar. E falo, se sentir que é essencial. Porque não falar? Ninguém nos irá responder, é certo, mas haverá alguém a ouvir-nos. O passarinho pousado na árvore olha-me atentamente, como se escutasse tudo o que estou a dizer. De repente, chilreia. E eu ouço-o também. De novo contemplo a flor. Penso em leva-la para casa mas recuo com a minha decisão. Ela pertence ali e é naquele local que deve ficar. E vou-me embora. Despeço-me de tudo, da flor, do pássaro, do vento, das cores. E decido ir para onde pertenço.

Sinto-te

Sinto-te…Sinto-te tão presente quando não estás. Sinto que me olhas, que me proteges. Tento falar-te, mas por vezes não ouves o meu silêncio, essa imensidão de palavras que não consigo dizer-te. Tento aproximar-me de ti, do teu mundo tão distante e vazio. Olho-te e tu olhas-me, dizes-me aquilo que não é preciso soletrar, todas aquelas coisas impossíveis de disfarçar. Falas de um passado que ainda não passou, um futuro que parece não chegar. Relembras os acontecimentos que se passaram, ainda tão presentes. Mas calas-te. Não dizes nada. Não expressas os teus sentimentos, finges não sentir o que sentes. Distancias-te do que não te consegues separar. Foges do que queres, do que desejas, do que amas. Mas lutas para não o perder. És uma parte de mim que não me pertence, uma parte necessária e que não dispenso. És memória inesquecível, sentimento inexplicável, característica essencial. Relembras-me o que nunca fui, o que aprendi a ser. Ensinas-me a recordar aquilo que era, que se estava a perder. Entraste na minha vida de repente e lentamente tornaste-te naquilo que mais adoro. Pareces ser o que não és e és o que não transpareces. Revelas-te a cada dia passado como alguém que eu nunca pensei que existisse. Entraste no meu coração como que num beco sem saída, um local de onde nunca sairás. Comparo-te com o céu, por seres calmo, sereno, tranquilo. Mas és o mar, por vezes agitado, inseguro, mas sempre forte. Adoro-te pelo que és para mim, por tudo o que me ensinaste a ser. Trouxeste, de novo, à minha vida uma alegria anteriormente perdida. Não sei como te agradecer o facto de existires, de viveres, de te conhecer e de estares aqui, presente, mesmo quando estás ausente. Nenhum alfabeto inventado pelo Homem consegue expressar os sentimentos que fazem de nós aquilo que somos. Crescemos porque aprendemos a ser alguém e tu ensinaste-me a ser o que sou. Ensinaste-me que os pequenos momentos podem ser os mais especiais; ensinaste-me a viver cada dia com um sorriso nos lábios; ensinaste-me que cada pessoa é especial à sua maneira. Adoro-te por tudo o que és para mim. Nunca te irei esquecer.