Reparo num retrato perdido, nosso. Retrato de há tanto tempo mas ainda tão recente. Relembro o momento da sua existência. Recordo-o com saudade, o mesmo sentimento que sinto acerca da tua pessoa. Tenho saudades de te conhecer verdadeiramente, tal como acontecia naqueles particulares momentos, tão singulares e vulgares. Os retratos não passam da capa de uma história nossa, um passado já escrito cujas entrelinhas apenas nós conhecemos. Cuja escrita é apenas nossa. Cujos protagonistas somos nós. As promessas de acabar o conto com o costumado final feliz foram quebradas pelo nosso afastamento. Agora falta a coragem para pegar na caneta e recomeçar o inacabado. Falta preencher as páginas com as palavras todas que ficaram a pairar no ar, que ficaram por dizer. São tantas, que desisto de as tentar pronunciar. Pertencem ao passado e, no entanto, estão ainda tão presentes. Olho para o retrato do passado e vejo-te completamente diferente. Estás diferente, muito diferente. Passo por ti agora e sinto que já nem te conheço, sinto que te transformas-te interiormente, tornando-te desconhecido para mim. Mas tudo não passam de retratos que fazes questão de ignorar quando, de vez em quando, relembro. Porque são esses retratos que nos fazem sorrir. E um dia, assim o espero, finalizaremos a nossa história. Porque todos temos uma.
domingo, 30 de novembro de 2008
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